Os fundamentos apontam para uma pressão de alta maior no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. A queda na produtividade das lavouras e o aumento nos custos de produção deverão prejudicar os resultados, mas, ainda assim, o resultado esperado é de lucro em Mato Grosso e no Paraná.
A cotação do milho no País caiu em julho e nas primeiras semanas de agosto, devido à conclusão da colheita da segunda safra 2018/19, o que aumentou a disponibilidade interna. No entanto, após esses recuos, os preços estiveram firmes em setembro, acompanhando o bom ritmo das exportações e o dólar em patamar acima de R$ 4,00. Segundo um levantamento da Scot Consultoria, a saca de 60 quilos ficou cotada em R$ 39,00 na região de Campinas-SP, frente a negócios em até R$ 37,00 em meados do mês anterior.
Com relação às exportações brasileiras, apesar da queda de 4,3% na média diária embarcada em setembro (até a segunda semana) frente a agosto último, o volume foi 88,0% maior em comparação a setembro do ano passado. E, ainda, a expectativa é de que as recentes revisões para baixo da safra norte-americana 2019/20 deem sustentação aos preços do cereal no mercado internacional, o que é positivo para as exportações nos próximos meses. No seu relatório divulgado em setembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estimou a produção norte-americana em 350,52 milhões de toneladas, frente a 353,09 milhões estimados no relatório anterior e 366,29 milhões de toneladas colhidos na safra passada. No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou as exportações de milho para 35,0 milhões de toneladas neste ano, frente a 34,5 milhões de toneladas estima- dos anteriormente.
A Scot Consultoria estima que o volume embarcado em 2019 possa superar os 37 milhões de toneladas caso não tenhamos nenhuma surpresa do lado do câmbio e do cenário mundial.
EXPECTATIVAS DE PREÇOS
A expectativa é de um cenário de retomada das cotações em dólar do milho no mercado brasileiro e de uma boa movimentação para exportação nos próximos meses. Na B3, os preços dos contratos futuros de milho reagiram em setembro, após se mostrarem mais frouxos nos meses anteriores. Trata-se de um indicativo desse viés de alta.
Para o médio e o longo prazos, é preciso considerar a previsão de um clima mais adverso para a safra 2019/20, ainda em fase inicial. Caso se confirme a previsão de atraso nas chuvas em algumas regiões do Brasil Central, a semeadura da primeira safra do cereal, de verão, poderá atrasar e ficar comprometida. Isso, certamente, estreitará a janela de plantio do milho 2ª safra, de inverno.
agronalysis outubro 3-1
Ou seja, o cenário para a safra 2019/20 poderá ser diferente daquele apurado na temporada encerrada. Assistimos ao registro de queda nos rendimentos do milho na segunda safra 2019/20 em relação à safra 2018/19, a qual registrou produtividades recordes nos principais estados produtores. Assim, para o primeiro semestre de 2020, uma pressão de alta nos preços está sujeita a ocorrer.
RESULTADOS ECONÔMICOS
Apresentamos os resultados econômicos para a produção de milho da segunda safra 2018/19 e as estimativas para a primeira safra 2019/20 em Mato Grosso, o maior produtor nacional. Os dados de custos de produção (custos operacionais) são do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), enquanto, para os demais, os parâmetros são dados ou estimativas da Scot Consultoria.
Mesmo com a projeção de preços maiores para o milho em 2020, a queda na produtividade das lavouras (-3,9%) e o aumento nos custos de produção (+11,8%) deverão prejudicar os resulta- dos para o agricultor. Mas, ainda assim, o resultado esperado é de um lucro de R$ 322,55 por hectare.
No Paraná, a situação é diferente. Apesar de subirem, os custos de produção ficaram menores do que os verificados em Mato Grosso, de acordo com informações do Departamento de Economia Rural da Secretara de Agricultura e Abastecimento do Paraná (DERAL/Seab). Outro fato diz respeito ao clima, que deverá impactar menos os rendimentos da cultura (-0,1%), já que a retomada das chuvas deverá ocorrer mais dentro da normalidade.
Considerando um preço mais alto para a saca do cereal em 2019/20, espera-se um resultado ainda melhor do que o registrado em 2018/19. O lucro médio estimado é de R$ 945,87 por hectare – um incremento de 17,9% em comparação à temporada anterior.
É possível notar que o preço da saca de milho no Paraná é relativamente maior do que o de Mato Grosso. Essa diferença justifica-se pela maior distância do estado de Mato Grosso em relação ao porto, o que se traduz em um custo mais elevado do frete para escoar a produção. Esse, também, é um fator que torna o preço da terra no Paraná mais elevado.
Até o primeiro semestre de 2020, há bastante “água para correr”, e muitas mudanças conjunturais podem acontecer, principalmente em se tratando de clima e questões econômicas e políticas. Entretanto, diante das incertezas no Brasil e da briga comercial entre os Estados e a China, que têm mexido também com as economias pelo mundo, o agricultor e o pecuarista (consumidor de milho) precisam ficar atentos às oportunidades de mercado.
Agroanalysis/FGV
Notícias Agrícolas – 14/10/2019