A Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), representada pelo presidente, Paulo Bertolini, participou à convite da Aprosoja-MT de uma importante missão em Guilin, na China, nos dias 9, 10 e 11 de julho. A Abramilho juntamente com a Aprosoja participou de reuniões com o governo e com a iniciativa privada. A entidade participou também da 16ª Conferência Internacional de Cereais e Óleos da China que reuniu autoridades do governo local e importadores chineses interessados em conhecer o sorgo brasileiro, grão que tem crescido no país.

Na conferência, o presidente Paulo Bertolini ministrou uma palestra sobre o potencial brasileiro na produção e exportação de sorgo. Ele ressaltou que o Brasil tem capacidade para ampliar significativamente a produção de sorgo e se consolidar como fornecedor confiável para a China e outros mercados internacionais interessados. Bertolini destacou que “o evento foi uma oportunidade importante para apresentar o modelo sustentável da agricultura brasileira, especialmente nas cadeias do milho e do sorgo.”

Ainda que a produção de sorgo seja pequena em comparação à de soja ou milho, nos últimos cinco anos o Brasil passou de 2 milhões para 5,5 milhões de toneladas, alcançando o 3º lugar mundial na produção desse grão. Estima-se que, até 2030, o país atinja a marca de 10 milhões de toneladas, podendo se igualar aos Estados Unidos, o maior produtor mundial de sorgo.
Alguns fatores explicam esse rápido crescimento, sendo o principal a versatilidade do sorgo. Assim como o milho, ele possui uma ampla variedade de usos. No Brasil, ainda é utilizado majoritariamente para a alimentação animal; entretanto, em países da África e da Ásia, é bastante comum seu consumo humano, tanto em comidas quanto em bebidas alcoólicas.
No caso da China, o sorgo é utilizado na produção da bebida local chamada baijiu (白酒), considerada por alguns como equivalente chinês da cachaça. É uma bebida destilada tradicionalmente produzida e consumida no país, muitas vezes feita a partir de grãos como sorgo, arroz ou milheto. O baijiu é conhecido por seu alto teor alcoólico, que pode variar de 40% a 60%.
A crescente demanda chinesa é outro fator que indica o potencial de expansão do sorgo no Brasil. Atualmente, o mercado interno consome cerca de 99% da produção nacional — em 2024, por exemplo, foram exportadas apenas 180 mil toneladas das 4,4 milhões produzidas. Apesar do volume ainda modesto, o resultado representa um recorde expressivo em comparação às 33 mil toneladas exportadas em 2023, impulsionado pela seca que afetou a África do Sul. Para se ter uma ideia do potencial do mercado chinês, estima-se que, em 2025, o país importe cerca de 8 milhões de toneladas de sorgo.
Rusticidade do sorgo
Quanto à rusticidade, o sorgo apresenta um importante diferencial, não como concorrente do milho, mas como complemento, sendo ideal para plantios em janelas mais estreitas ou em regiões onde o cultivo do milho na segunda safra não é viável. Por ser uma planta mais rústica que o milho, tolera melhor o estresse hídrico, fato evidenciado no mapeamento do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC). Em situações de atraso na colheita da soja, o plantio do milho na segunda safra muitas vezes é empurrado para meados de fevereiro, sendo o final desse mês considerado uma janela de risco para o investimento na cultura em grande parte do país. Isso gera duas possibilidades: o produtor pode optar por não plantar ou investir pouco na lavoura. Nesses casos, o sorgo surge como uma alternativa rentável e segura.
Interesse pelo DDG
Outro uso importante que vem crescendo no Brasil é a produção de etanol a partir do sorgo, havendo atualmente duas usinas dedicadas exclusivamente a essa produção. O aumento da demanda local por sorgo tem ampliado o interesse de produtores brasileiros. Assim como o milho, a produção de etanol a partir do sorgo também resulta no coproduto DDG.
O mercado chinês para DDG foi aberto em maio de 2025, consolidando um avanço estratégico para o setor. Para este ano, estima-se que a produção brasileira alcance cerca de 5 milhões de toneladas, empregadas principalmente na alimentação animal. Embora o consumo interno absorva a maior parte desse volume, a nova oportunidade de exportação para a China tende a estimular o crescimento da produção e a instalação de novas usinas no país.
Junto com a Aprosoja, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) e a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Abramilho reforçou a posição estratégica do Brasil como fornecedor global de alimentos, destacando a qualidade, competitividade e sustentabilidade da produção nacional de milho, soja, sorgo e derivados.


