Desempenho das lavouras foi melhor que o estimado no início do ciclo e produção deve passar de 33,27 milhões de toneladas; em algumas fazendas já falta espaço para estocar os grãos
Conforme as máquinas avançam no campo, confirmam algumas projeções. O desempenho das lavouras de milho não repetirá o da última safra, quando a produtividade foi a maior já registrada em Mato Grosso (110,7 sacas/ha). Por outro lado, deve superar primeiras estimativas e – somada ao incremento da área destinada aos milharais – garantir uma produção recorde no estado, acima de 33,27 milhões de toneladas.
Até a última sexta-feira, 3, praticamente metade (46%) das plantações já estava colhida no estado. Destaque para a região médio-norte, onde as colheitadeiras já avançaram sobre mais de 60% das lavouras. Com os trabalhos acelerados e as vendas antecipadas de milho em volume histórico este ano, muitos agricultores aguardam a retirada dos grãos pelas empresas compradoras. Só que em algumas fazendas já não há mais espaço para estocar a produção e é preciso buscar alternativas para guardar o milho.
É o que acontece na propriedade do agricultor Emerson Zancanaro, que também é presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum. “Aqui no município a colheita do milho está andando a pleno vapor. Nós já estamos com muito milho colhido, porém já estamos enfrentando problema de gargalo logístico. Já tem algumas semanas que o fluxo de recebimento na ferrovia lá em Rondonópolis, que é o nosso maior destino, tá bem reduzido. Eu mesmo estou tendo que estocar cerca de 30% da minha lavoura de milho em silo-bolsas. Isso preocupa porque hoje nós temos uma cadência de somente de 2 a 3 carretas por dia para embarcar os contratos e a gente acaba tendo um custo maior dentro de um contrato que seria para ser entregue até esta data”, explica.
A espera narrada pelo agricultor não decorre de problemas no ritmo de embarques no terminal ferroviário no sul do estado, de onde partem os trens com destino ao porto de Santos. Segundo a Rumo Logística, as operações transcorrem normalmente, com embarque médio de 65 mil toneladas de grãos. Este volume equivale a um navio por dia, conforme nota encaminhada pela empresa ao Canal Rural.
Diretor-executivo do Movimento Pró-logística, Edeon Ferreira, explica que a lentidão citada pelo agricultor é reflexo de uma soma de fatores. “O volume direcionado à ferrovia é bastante elevado, as tradings têm cotas a serem embarcadas, portanto, dividem esta cota para os produtores. Muitos produtores têm contratos e volumes a serem entregues em maior volume e muitos não têm armazém, ou se têm, não têm armazém suficiente para armazenar”, comenta.
A falta de espaço para guardar a produção é recorrente em Mato Grosso. O estado produz mais de 68 milhões de toneladas de soja e milho, mas tem capacidade estática para estocar pouco mais da metade desse volume (37 milhões ton). Outro problema, segundo a Aprosoja-MT, é que apenas 40% dos armazéns estão dentro das fazendas.
“Isso cada vez mais evidencia a necessidade que temos que implantar as unidades armazenadoras na fazenda, principalmente agora com essa força maior do milho segunda safra. Eu mesmo, produzo o dobro de grãos de milho do que de soja, por isso é importante esse investimento para minimizar os custos e mitigar os riscos”, conclui Zanacanaro.
Canal Rural – 07/07/2020